“Há uma rachadura em tudo. É assim que a luz entra.” – Leonard Cohen
Um dos desafios do projeto está vinculado ao desejo de trabalhar o espaço orientado pelas noções de tempo e lugar. Iniciamos nossos rascunhos durante os primeiros meses de confinamento em decorrência da pandemia de Covid-19 e, naquele momento, nos perguntamos como se caracterizaria o lugar a partir desta condição de habitar.
A casa Lúmen foi concebida, neste sentido, como um experimento sobre como perceber a passagem do tempo através do espaço edificado. Como instrumento de compreensão, vislumbramos responder ao estímulo através da mediação do movimento da luz.
A partir de seu espaço central, organizador dos ambientes ao redor, configuramos um desenho que prioriza e otimiza as conexões e acessos entre as partes da residência, primeiro no plano horizontal, encaixando o programa arquitetônico em uma configuração majoritariamente térrea e, segundo – tendo a luz como regente do partido – no plano vertical, pela manipulação do vazio.
A resultante deste traçado conforma um espaço com pé direito duplo interligado ao pavimento superior, caracterizado por um recinto versátil e um mirante com vista permanente para a Serra da Mantiqueira. Esta articulação de níveis, fundamental para as diferentes interações espaço-tempo na residência, é feita por uma escada de concreto aparente. Como protagonista do espaço, contracena com o vazio e se estabelece também como uma peça esculpida de mobiliário.
Se no pavimento superior a relação “dentro” e “fora” se consolida por meio do mirante que vislumbra o horizonte, no pavimento térreo esta transição se dá por meio de uma varanda coberta que conduz o morador a um deck com piscina e jardim. Em ambos, a iluminação natural é abundante e presente durante grande parte do dia. Já internamente, em uma esquina do espaço central, abrimos uma janela que também é uma abertura zenital. Esta abertura evidencia o fenômeno que desenha fachos de luz e ilumina sem ofuscar, permitindo observar a passagem do tempo.
As fachadas são compostas por blocos distintos e sobrepostos. Os dois localizados no pavimento superior apresentam diferentes dimensões e alturas, possibilitando entrada de luz entre eles. Estas diferenças proporcionam relações de volumetria associadas às suas respectivas utilidades, tanto programáticas, enquanto decorrência do arranjo dos ambientes, quanto técnicas, onde é necessário o abrigo para equipamentos. Já o bloco do pavimento térreo, que explora a relação de “cheio” e “vazio”, é composto por uma empena de concreto com passarela elevada que cria um ambiente de estar no jardim frontal. Em ambos, o aspecto dos volumes brancos e sóbrios funcionam como superfícies que valorizam a incidência de luz.
Concebida em detalhes que praticam a lógica da subtração de elementos, foram propostas soluções que potencializam a otimização dos recursos, a oferta de luz natural, a circulação de ar passiva e o uso moderado de equipamentos de climatização que, aqui, estão implantados somente nos dormitórios. Ainda assim, em uma tentativa de minimizar os impactos da construção em relação ao meio ambiente, 500 mudas de árvores nativas da Mata Atlântica serão plantadas em parceria com a Associação Ambientalista Copaíba, compensando 90 toneladas de CO2 por ano.