A estratégia projetual deste edifício imprime a intenção pedagógica a que se destina:
- Primeiro: do ponto de vista do ensino, enquanto abrigo para as realizações de todas as atividades abordadas pelo SENAC,
- Segundo: do ponto de vista arquitetônico, em proposta que se coloca aberta a dialogar com as complexidades do entorno, imbuindo o edifício de urbanidade.
Entendemos que a edificação potencializa o encontro e as trocas entre as pessoas, as vivências e proporciona experiências inclusivas. De caráter privado, mas com viés para o uso público, intenta-se o desejo da boa receptividade aos cidadãos, docentes e alunos, através da proposta da não estratificação entre relações, articulando equilibradamente, como consequência, os fluxos horizontais e verticais de deslocamento e ocupação dos espaços internos e externos da escola.
Para tanto, refletindo acerca das experiências pregressas e do êxito da pedagogia estabelecida pelo SENAC, compreendemos que o programa ofertado pela instituição pode ser ainda mais potencializado trabalhando os aspectos interrelacionais entre as pessoas e o ambiente edificado. Destas associações, e compreendendo que a vida urbana carrega significâncias que se justificam pelas trocas diárias, acreditamos que a ênfase sobre a organização dos ambientes programáticos somados a maior oferta de qualidade e espaço para as circulações que os conectam, garantam a função social almejada para este novo edifício.
Situado em um importante eixo de deslocamento urbano da cidade de Salvador, onde predomina o intenso fluxo de veículos, a presença de centros comerciais de grande porte e o caráter espontâneo da ocupação das moradias existentes da comunidade do Alto da Saldanha, o terreno se mostra oportuno para uma operação urbana que busca trabalhar a escala do tempo e do espaço, transformando-o em um local de permanência, de conforto e de apropriação dos cidadãos.
Decorrente da análise da complexidade do entorno, verificamos que a maior densidade e a menor verticalidade, poderiam, neste caso, amparar a organização programática estabelecida, bem como promover os espaços de circulações como os vetores para o acontecimento das conexões interpessoais. Do mesmo modo, trabalhar com o edifício em menor altura possibilita condições de acessibilidade por rampas. Em nosso contexto, cujo talude de fundos do terreno se coloca como um local de instabilidade e como um desafio do ponto de vista construtivo, manejamos a sua forma articulando sobre ele as rampas e contenções do tipo gabião, sempre buscando a sua inclusão, sobretudo com trabalho paisagístico que o integra a edificação.
Ocupando boa parte do terreno, estabelecemos a edificação em poucos pavimentos e organizamos os pilares sob uma modulação estrutural de 7,20 por 8,00 metros, o que permite vãos de lajes de concreto armado de 25cm de espessura, dimensões comumente aplicadas sem apoio ou travamento por vigas. Com exceção de um trecho da edificação em que foi necessário suprimir uma linha de pilares, cujo vão foi vencido por vigas metálicas, além da estrutura das rampas externas, dos tirantes que sustentam um dos volumes internos e das vigas da claraboia sobre o vazio central, todas projetadas em estrutura de aço, a maior parte da edificação é composta por peças de concreto armado. Esta configuração, por sua vez, permite agilidade construtiva, flexibilidade, organicidade compositiva e facilidade das instalações e na execução dos pavimentos.
Esta solução construtiva espelha também a importante decisão de organizar as vagas de garagem em um único pavimento semienterrado, erguendo o pavimento térreo da edificação a 1,62 metros do rés do chão. Em função do lençol freático superficial e dos custos decorrentes de paredes diafragma e drenagens complexas, novamente confirmamos o efeito positivo de projetar considerando a alta densidade e a baixa altura da edificação. Ou seja, se o custo decorrente da decisão arquitetônica está diretamente vinculado à manutenção ou não do lençol freático e, questionando sobre a efetividade da solução e dos retornos ambientais e sociais que seriam resultantes, optamos por garantir a efetividade em acomodar as vagas em um único pavimento sem intervir no nível da água, e reverter este possível investimento para potencializar o dimensionamento das circulações generosas dos pavimentos programáticos da edificação, que, como citado anteriormente, fomentarão os aspectos comportamentais dos usuários.
Sob a demanda de projetar para atender a uma população cujo contexto é caracterizado por distintas formações sociais e de gênero, o projeto que propomos é um catalisador que estimula o desenvolvimento de cada indivíduo.
Na busca pela afetividade poética, resolveram-se as fachadas de acordo com duas abordagens complementares: se em duas de suas faces existe o tratamento estético por meio de composições de chapas metálicas perfuradas que protegem os espaços da insolação direta, nas outras duas, voltadas tanto para a avenida frontal quanto para o talude de fundos do lote, optamos pela transparência em relação à dinâmica das atividades. Neste último, um desejo de fazer da fachada aquilo que revela o que é “dentro”. Além disso, os espaços abertos como varandas e terraços, favorecem a vivência e a convivência nos espaços com conforto, sombra e ventilação natural.